terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

John Paul Jones

Apesar de ser o menos amado, talvez o mais subestimado de todos os seus elementos, John Paul Jones sempre foi uma usina de talento e peça fundamental na engrenagem deste monstro sagrado do rock que se chama Led Zeppelin. Todas as viúvas (muitas delas hidrófobas) só clamam pela memória de Page, Plant e Bonzo e esquecem deste músico fantástico, que faz um trabalho ainda hoje instigante e atual, como se pode comprovar ouvindo o maravilhoso Zooma, seu cd solo lançado em 99.

Depois que a vaca foi pro brejo com as quarenta vodkas de Bonzo, pouco se ouviu falar de John Paul Jones. Enquanto Plant iniciava uma carreira solo de relativo sucesso e Page tentava aqui e acolá voltar ao que fora, Jones voltou às origens de arranjador e sessionman, abandonando os holofotes e desenvolvendo trabalhos com músicos do calibre de Paul McCartney e Brian Eno. Fez algumas trilhas de filme, muitos arranjos e experimentou um pouco de música eletrônica.
Alem de um baixista excepcional, conhece música como poucos e é um tecladista bastante razoável. A verdade é a seguinte: ao invés de ficar correndo atrás de um qualquer e vivendo de um passado que não volta mais, o homem foi em frente e fez um excelente disco instrumental de música contemporânea, onde arrasa no baixo de doze cordas na companhia dos não menos inspirados Pete Thomas (bateria) e Trey Gunn (guitarras e zilhões de efeitos). É um tapa na orelha cheio de inteligência, que muitas vezes lembra as melhores coisas do King Crimson onde lirismo e brutalidade se misturam na medida certa. O homem está impossível no baixo, no auge da forma e da criatividade, o que prova que qualidade não é questão de idade e sim de maturidade e talento.
É lógico que o  clube vai odiar o disco, afinal de contas fã gosta de coisas imutáveis onde reconheça e se reconheça na idolatria. Pergunte a um fã de Jerry Adriani se ele pode parar de cantar "doce amor". É a mesma coisa, tanto faz seja da Emilinha, Cauby ou Led Zeppelin, a cegueira de quem não suporta a evolução natural do talento é uma constante. Todo cuidado é pouco quando se chega perto da bitolação da alma e da mente. Um verdadeiro perigo que beira o reacionarismo (olha o Nazismo aí gente!)
O disco é nitroglicerina pura e bastante pesado. Algumas faixas são antológicas como "Goose" onde o baixão de dez cordas é espancado num vigoroso solo altamente vitaminado acompanhado por uma bateria simplesmente alucinante que faz lembrar Bill Bruford ou o Ginger Baker dos áureos tempos. Bass'n'Drums é um estimulante diálogo onde Jones pode mostrar toda a evolução de sua técnica que muitas vezes ficou obscurecida no grupo de origem. Pelo menos muito pouca gente citava isto na época.
Nascido em 3 de Janeiro de 1946, John Paul Jones foi arranjador e produtor de muita gente boa antes de entrar pro Led Zeppelin (Jeff Beck, Herman Hermits, Graham Gouldman, Donavan etc...) e está preparando um disco novo com os mesmos acompanhantes. Se mantiver o nível deste está valendo e muito.
Não é por nada não, mas tocando deste jeito e com essa criatividade nas composições pode até babar ou desmunhecar que isso não tem a mínima importância.
Não é o Led Zeppelin, mas está à altura do Led Zeppelin. Dá pra entender não dá? Ah! Antes que eu me esqueça, esta coluna foi escrita com Zooma explodindo nos fones!

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